1 - Quem conhece a festa do Natal? Pelo menos, dois biliões de pessoas celebram a festa do Natal. Mas, nos velhos países cristãos, um certo número já não sabe o que ela é. Outros, como os Chineses, ainda não sabem o que significa o Natal, mas já o celebram por ser uma festa pela qual eles entram na cultura mundial.
O Natal é
a festa do nascimento de Jesus, em Belém, na Palestina, há
cerca de 2000 anos.
- Jesus nasceu em Belém "no tempo do rei Herodes" e que Maria, a sua mãe, o deitou numa mangedoura porque não havia lugar na hospedaria. Herodes consulta os sábios judeus que indicam Belém. Os magos vão adorar o Menino, guiados pela estrela. Herodes quer mandá-lo matar e ordena o massacre das crianças de Belém com menos de dois anos: são os "santos inocentes". Mas a Sagrada Família já tinha partido: é a "Fuga para o Egipto" (ilustrada por numerosos pintores, entre os quais Giotto).
3 - Qual é o sentido da festa do Natal? "Já nasceu o Deus Menino" - estas palavras estão na letra de uma canção tradicional do Natal que exprime o sentido profundo do acontecimento e o seu aspecto inaudito: há cerca de 2000 anos que os homens reconheceram, no Menino de Belém, Deus que se fez homem e, até, menino para vir ao nosso encontro. Aquele a quem os filósofos chamam o Primeiro Motor (Aristóteles), o Todo-Poderoso, aquele que é o "Todo-Outro" faz-se no Natal o Deus-Menino. Esta é a estranha e admirável imagem que Deus nos quer dar de si mesmo quando vem ao mundo: o Criador do mundo apresenta-se como um pequenino, um pobre sedento de amor.
Compreende-se porque é que o Natal se tornou pouco a pouco, ao longo dos séculos, a festa maravilhosa dos humildes, a festa do Salvador do Mundo que veio como um menino enquanto, até aí, se esperava Deus no trovão e nos relâmpagos, com Majestade e num trono de juiz. Será esse mesmo Jesus que, mais tarde, dirá nos caminhos da Palestina:
"Eu te bendigo, Pai, Senhor do Céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos" (Lucas, 10, 21). E como não havia de brotar esta alegria profunda no coração do homem, no momento em que ele descobre que Jesus é o filho de Deus e que este Menino nos faz entrar também na família de Deus? O maravilhoso do acontecimento do Natal foi acolhido pela consciência popular ao longo dos séculos, tal como o testemunham a liturgia antiga, os contos de Natal e os cânticos desta época festiva. Mas, na sua pequenez, hoje, tal como há 2000 anos, o menino do presépio não nos obriga a nada: livres perante a tradição, livres perante o evangelho, é a cada um de nós que cabe ponderar pessoalmente esta proposta - reconhecer Deus que vem até nós como filho dos homens. Com muita imaginação, se a tivermos, e com o desejo de dar o Natal aos outros: a paz e a alegria, a atenção aos pobres e aos isolados, os presentes às crianças que puserem, segundo a tradição, o sapatinho na chaminé. O Presépio é uma reprodução do estábulo ou da gruta de Belém. Mais abaixo voltaremos a este assunto, depois de explicarmos a tradição do "Pai Natal". O "Pai Natal" é uma tradição cristã do norte da Europa em que se dão presentes no dia de S. Nicolau. É preciso um trenó para S. Nicolau poder transportar todos os presentes das crianças. S. Nicolau tornou-se esse velho a quem se chama "Pai Natal" na recente tradição... S. Nicolau é um santo comum aos católicos e aos ortodoxos e a sua história é feita de idas e vindas entre o Oriente e o Ocidente. A cidade de Bari, no sul da Itália, para onde as suas relíquias teriam sido levadas a partir da Ásia Menor, tornou-se um centro ecuménico importante na relação entre ortodoxos e católicos. O Presépio é uma tradição que remonta ao século IV, segundo pinturas e esculturas dessa época. Hoje ainda, para as crianças, festejar o Natal implica um Presépio, com a vaca e o burro, Maria e José (o pai legal e adoptivo de Jesus, que nasceu da Virgem Maria), os pastores e as ovelhas: é neste enquadramento que elas acolhem o mistério maravilhoso do Natal. Alguns países são célebres pelos seus presépios e associam as figuras tradicionais ao povo que, com os seus ofícios, acolhe o Natal. No sul da Itália, um presépio pode ser mesmo a obra de uma vida inteira, com campos, colinas e montanhas e centenas de personagens. No Natal, ouvem-se cânticos tradicionais. Através desses poemas que o povo canta, percebe-se imediatamente a forma como a gente simples acolheu, no seu humilde nascimento, todo um mistério de eternidade, tal como o fizeram os pastores de Belém. Os compositores desses cânticos de Natal, nossos antepassados, dão testemunho da abertura da sua alma e ajudam-nos a compreender, porque eles o compreenderam, aquilo que Deus diz de si mesmo quando se nos apresenta no estábulo de Belém. E a missa do galo? Porque não? E, depois, a ceia... Numa ceia sem missa do galo, há qualquer coisa que falta: a abertura a uma alegria e a uma esperança que nos ultrapassam. Antigamente, para a refeição do Natal, guardava-se à mesa "o lugar do pobre". Há sempre pobres, velhos e abandonados, por vezes bem perto de nós. A alegria do Natal pode nascer de dar e receber.
5 - O que é a estrela dos Reis Magos? As tradições populares sempre gostaram muito dos Magos e transformaram-nos em "Reis Magos". Os puristas, os exegetas criticaram a base desta tradição, dizendo que se tratava de um "midrash" (narrativa alusiva e simbólica da cultura hebraica). Hoje considera-se que esta narrativa poderá estar muito mais próxima da história do que já se acreditou e, entre os astrónomos modernos, ela é mesmo objecto de investigações aprofundadas... e calorosas. Com efeito, naquele tempo os astrólogos dominavam todo um sistema de referências de estrelas e constelações a pessoas e a povos e estamos bem informados acerca das hipóteses que eles poderiam ter formulado a propósito de um rei dos Judeus. Quanto a considerar os magos como reis, a tradição popular não é assim tão idiota: hoje em dia, um Prémio Nobel das ciências é tão respeitado como um rei.. Investigadores cristãos e até agnósticos seguem muitas vezes as pisadas dos magos do ano 1 da nossa era: para se sentirem mais livres em relação a qualquer dependência das suas próprias ideias, o que poderia prejudicar as suas investigações, vêm depor aos pés do Menino do Natal os seus trabalhos e as suas esperanças. O grande Pasteur fazia algo parecido quando dava graças a Deus por cada uma das suas descobertas.
Não é historicamente certo que a data de 25 de Dezembro tenha sido inicialmente escolhida pelo seu simbolismo em relação ao renascimento da luz - que, no entanto, conviria tão bem ao nascimento de Jesus Cristo, o Salvador. O cântico profético de Zacarias, pai de João Baptista, aquele que havia de ser o último profeta do Antigo Testamento, aquele que iria reconhecer o Messias, anuncia "o astro nascente vindo do alto". E o prólogo magnífico do evangelho de S. João diz do Filho que ele é "a luz verdadeira que ilumina todo o homem". Mas, na prática, foi porque antes se tinha fixado no dia 25 de Março a festa da Anunciação, quer dizer, a Concepção virginal de Jesus, que muito naturalmente se decidiu festejar o nascimento nove meses depois. É no século IV, por volta de 340, após três séculos de perseguições, que as festas cristãs vão poder desenvolver-se em locais exteriores. Por esta altura, com a festa litúrgica do Natal, aparecem as representações do presépio, com a vaca e o burro, os pastores, a estrela e os magos. O primeiro sermão do Natal que se conserva é um sermão de Optato de Milevo, um bispo do Norte de África, datado de 368. Por esta altura, a celebração do "sol invictus", quer dizer, do solstício do Inverno, ligada em particular ao culto do deus Mitra, estava a perder influência. Então a Igreja, que nunca rejeitou nada que fosse belo e verdadeiro na cultura pagã, fez renascer a festa e como que deu título de nobreza ao símbolo do sol que, no solstício do Inverno, começa a crescer no céu. Contrariamente a uma opinião inutilmente agressiva, o cristianismo não é um nivelador de culturas: tal como no caso do solstício do Inverno, ele foi e será muitas vezes capaz de dar um sentido definitivo às mais belas intuições do homem. Jean Loguevel. |