Perante o eugenismo e a eutanásia,
a Alemanha lembra-se dos nazis

 

 

    Johannes RAU, o Presidente da Alemanha, ergueu-se vigorosamente contra as declarações feitas pelo Chanceler Gerhard SCHRÖDER a favor da utilização de embriões para a investigação (2.5.2001):
    "Eugenismo, eutanásia e selecção são termos que na Alemanha estão ligados a tristes recordações", disse Johannes RAU.
    Gehrard Schröder declarara que punha em primeiro lugar os interesses económicos do país, os quais, segundo ele, não podem ser travados por considerações éticas. Desse modo, a Alemanha distanciar-se-ia do Reino Unido na bio-tecnologia. Pronunciara-se também a favor do "diagnóstico pre-implantatório", que tem por objectivo seleccionar um embrião "são" entre vários embriões produzidos, em ordem a uma fecundação in vitro, a fim de garantir aos pais um filho isento de doenças genéticas.
    Se a selecção dos embriões para obter seres "sãos" se efectuar no início da vida, será menos condenável do que depois do nascimento? Os nazis queriam fazer a separação dos "indesejáveis" fosse qual fosse a sua idade. Francis Crick, que recebeu em 1962 o Prémio Nobel por ter descoberto com Watson a estrutura do ADN, declarava: "Nenhum recém-nascido deveria ser reconhecido como ser humano antes de ter passado por um certo número de testes acerca da sua herança genética". O eugenismo discreto dos médicos que separam os embriões será mais aceitável do que o eugenismo nazi?
    Quanto à produção de embriões para desempenharem o papel de escravos terapêuticos destinados a produzir medicamentos, quem a pode aceitar?
    O argumento do Schröder consiste em dizer que tal prática tem por objectivo aliviar os doentes - o primeiro ministro francês Jospin faz a mesma chantagem ao sofrimento... Mas que doente ousaria fabricar e sacrificar uma criança para se tratar?
    Pretende-se também que só a investigação sobre os embriões permitiria obter o que se chama "células embrionárias" ou "células estaminais", Espera-se que tais células possam trazer um remédio para certas degenerescências celulares, tais como as das células nervosas na doença de Parkinson. Fizeram-se experiências nesse sentido; os resultados foram dramáticos para um certo número de doentes.
    De qualquer forma, a verdade é que existem actualmente outras linhas de investigação que não passam por sacrificar embriões: já se puderam retirar células embrionárias do cordão umbilical e essa é uma alternativa que respeita a dignidade humana. Por isso, fazer "clones terapêuticos" é não só ignóbil como provavelmente inútil.
    Assinalemos igualmente que estão em curso interessantes pistas de investigação a partir das células nervosas do adulto.
    Por fim, tenhamos em conta que a legalização da eutanásia na Holanda fez erguer uma profunda indignação na Alemanha, reacordando, tal como o eugenismo e a selecção, a memória das experiências e das leis nazis ligadas à ideologia de uma raça de senhores.
     O jornal inglês "The Guardian" dava como título "Germany fears a 'master race'": a Alemanha tem medo de uma raça de senhores. O jornal alemão "Die Welt" considera que a tomada de posição do chefe de estado, o Presidente Rau, "chega no momento certo, no lugar certo, e dar-lhe-á a aura de um Papa alemão"

Jean Loguevel

Ver: - o artigo do "The Guardian: http://education.guardian.co.uk/higher/news/story/0,9830,494831,00.htm
        - a crónica "Embryons humais: êtres humains, cobayes ou esclaves thérapeutiques ? ", no site Questions de l´homme
        - o livro do professor Axel Kahn, geneticista, membro do Comité de Ética: "Copie Conformes"

 

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