50 questões |
E quando não se pode ter filhos, que fazer? |
É evidentemente um grande sofrimento para um casal chegar à conclusão de que tem dificuldades em transmitir a vida. Na verdade, poucos casais são realmente estéreis - sem nenhuma probabilidade de gravidez - mas há alguns, aproximadamente 10%, que são hipo-férteis, quer dizer, levarão muito mais tempo para conceberem uma criança, tendo às vezes que fazer um tratamento.
Hoje fala-se muito de fecundação in vitro, praticada em laboratório.
De que se trata exatamente?
Este método consiste em, depois de ter provocado várias ovulações na mulher, retirar os óvulos e fecundá-los com os espermatozóides do marido. Obtêm-se assim vários embriões. Desses, três ou quatro são reimplantados no útero da mulher, os outros são conservados congelados em azoto líquido. Se os três (às vezes quatro) e mbriões implantados continuam normalmente a sua evolução, não é raro que se proponha uma "redução embrionária", quer dizer, um aborto de um ou dois embriões que, no entanto, tinham conseguido se implantar! Quanto aos embriões conservados no congelador, serão utilizados numa outra gravidez na mesma mulher ou noutra a quem serão doados, ou então serão utilizados em experiências científicas.
A estes métodos
de base podem ser acrescentadas algumas variantes: em caso de esterilidade
grave do marido ou da mulher, os óvulos podem ser retirados de outra
mulher ou os espermatozóides de um doador de esperma.
Se estes métodos representam proezas médicas e técnicas
importantes, não deixam de pôr alguns problemas graves:
1º A fecundação acontece fora do ato conjugal: esta separação entre o ato que exprime de forma privilegiada o amor dos pais e o ato que está na origem da vida faz com que o seu aparecimento decorra de um ato técnico, e não como conseqüência imediata de um ato de amor. A vida perde então o seu vínculo fundamental com o amor... mesmo que essa criança seja, como é lógico, amada pelos seus pais.
2º Estas técnicas, como já vimos, requerem a fecundação de um certo número de embriões, dos quais uma parte será suprimida voluntariamente ou na seqüência de manipulações técnicas (descongelamento por exemplo).
3º Para os médicos é grande a tentação de utilizar estas técnicas o maior número de vezes possível, para treinarem e melhorarem a técnica propriamente dita, a fim de adquirirem cada vez mais experiência, até numa perspectiva de concorrência entre equipes. A satisfação de se sentir senhor da vida, de se julgar na origem da vida, não será uma motivação absolutamente ambígua, até mesmo perigosa, para os casais e a sociedade?
4º O tratamento da hipofertilidade deveria ter como fim restaurar
no homem ou na mulher, ou nos dois, a possibilidade de que o ato sexual,
sinal e expressão do seu amor, fosse também fonte de vida.
Ora, a técnica médica oferece atualmente a possibilidade da
vinda de uma criança sem no entanto curar o homem ou a mulher da sua
doença.
5º Para os casais, terem uma criança é verdadeiramente um direito? Uma criança não é um "objeto" necessário para o desenvolvimento harmonioso de um casal, mas precisa ser o fruto do amor antes de ser o fruto de um êxito técnico. É um dom, sinal da dádiva mútua dos esposos num ato que implica os seus corpos e os seus corações de forma indissociável. Não se "faz" uma criança. Ela não é propriedade dos seus pais, mesmo desde a concepção.
Abdicar do recurso a estes métodos, pode ser um real sacrifício para certos casais. Só entendendo profundamente este mistério da vida como dom de Deus e socorrendo-se da graça do Senhor se poderá viver uma tal prova.
Que soluções existem para estes casais que não podem ter filhos? Primeiro, saber esperar e não se precipitarem numa solução médica complexa quando a paciência pode ser suficiente. Depois, pensar em outro tipo de tratamento para a hipofertilidade e não ver a fecundação artificial como única solução, abandonando outras vias de investigação. Por fim, talvez até pensar em outro tipo de fecundidade, usando o seu tempo, a sua energia, os seus talentos numa causa que lhes interesse profundamente... ou então virarem-se para a hipótese da adoção de uma ou várias crianças que encontrarão, graças a eles, a família e o amor de que foram despojados logo no começo das suas vidas.
Testemunho
Sou médico especialista em hormonologia
e casado há trinta anos. Contra o nosso desejo, depois de dois anos
de casamento ainda não tínhamos filhos. Por obediência
à Igreja, tínhamos posto de lado a hipótese de uma
fecundação in vitro... apesar desta decisão não
ter sido fácil!
Nos casamos, como a maior parte dos casais,
convencidos de que não iríamos esperar muito para termos uma
família. Mas, depois de vários meses de espera, tivemos que
nos render à evidência de que não iríamos ter
a felicidade de ter um bebê... Fizemos, é claro, todos os exames
possíveis e imagináveis, submetemo-nos a vários
tratamentos... sem resultado. A prova foi dolorosa: cada nascimento que havia
à nossa volta era uma nova forma de sofrimento. Seremos capazes de o amar?
Mas ainda estávamos cheios de medo: seríamos capazes de amar
verdadeiramente uma criança por ela própria, uma criança
em quem não poderíamos nos reconhecer, uma criança que
teria sempre uma parte misteriosa, uma origem, uma história completamente
desconhecida? E se depois tivéssemos um filho nosso, seríamos
capazes de o amar da mesma forma? Hoje sabemos que os pensamentos de Deus estão bem acima da nossa forma de encarar as coisas, porque são para nosso bem, embora pese o sofrimento que Ele nos ensina a oferecer-Lhe e que Ele torna fecundo. Michel e Marie-Hélène PS: Preparamo-nos para viver outra aventura, uma vez que esperamos um irmãozinho para a Miriam dentro de algumas semanas. |