50 questões |
Casar-se... O que isso nos traz de novo? |
A vida do casal tem alguma coisa a ver com
a sociedade, com a Igreja? Alguns dizem: "Isso só diz respeito a mim,
ninguém tem nada a ver com isso..." Há qualquer coisa que
está correto nesta afirmação, pelo menos em parte; o
casamento é, antes de mais nada e essencialmente, a união de
um homem e de uma mulher que dizem "sim" um ao outro, que constroem uma
aliança.
Cristo não diz outra coisa quando diz "0 homem deixará o pai
e a mãe para se unir à sua mulher; e os dois serão uma
só carne." Mas também é verdade que todo o casamento
tem consequências sociais e tem que ser reconhecido pela sociedade
para funcionar melhor: quem dá o nome aos filhos, quem tem o direito
de os educar, etc, o casal, e o seu estatuto civil, fiscal,...
Na maior parte dos casos, é impossível para um casal, para
uma família não ter esse estatuto social, que assegura o seu
reconhecimento, protege os seus direitos, facilita as suas relações
com o resto da sociedade. Além disso, o casal, a família, não
são eles mesmos uma primeira realidade social?
Há portanto que encontrar um equilíbrio entre as pressões
sociais ou familiares que agem contra a sua intimidade, a sua felicidade,
a sua fidelidade, as suas escolhas, e a necessidade de obter um reconhecimento
social e jurídico que, por sua vez, acarreta algumas
obrigações.
O CASAMENTO CIVIL
Os casais têm
portanto, um verdadeiro direito a um estatuto social, que não é
sempre aquele que o Estado impõe num determinado momento histórico.
Há numerosos países em que o fato de celebrar o casamento na
Igreja, traz igualmente o benefício de estar casado juridicamente,
como é o caso de Portugal. Em outros não acontece assim.
Apesar dos seus limites, o casamento civil (sem casamento religioso) traz
qualquer coisa de novo ao casal, na medida em que ele é um compromisso
tomado não somente a dois, mas também em relação
aos outros.
O CASAMENTO NA IGREJA
Seguindo a Cristo, a Igreja pede aos católicos batizados que se casem religiosamente (1), que digam um "sim" livre e definitivo. O casamento religioso é chamado um sacramento. Isto quer dizer que pelo seu sim, o homem e a mulher acolhem um dom especial de Deus, uma "graça" destinada a aumentar o seu amor e
a ajudá-los ao longo das suas vidas, em todas as dimensões
do seu casamento e da sua família.
O sacramento do matrimônio dá-nos a capacidade de renovar o
amor, indo buscar água à fonte do Amor (ver Q 13).
O primeiro milagre que Jesus fez, diz-nos o evangelho (Jo 2,1-11), foi renovar
a alegria num casamento, em Caná. Quando a festa corria o risco de
acabar por falta de vinho, Jesus transforma a água em vinho. Eis o
que Ele nos propõe no sacramento do matrimônio: transformar
a água do nosso casamento humano - com todas as suas realidades -
em vinho, o vinho das Núpcias do Cordeiro para que o nosso amor dure
até a eternidade.
(1) O casamento religioso normalmente é público.
No entanto, devido a uma causa "grave e urgente", pode ser celebrado
secretamente, com uma permissão especial.
Isto espanta-me sempre, diz Deus, ouvir as pessoas dizerem:
"Nós nos casamos!"
Como se alguém se casasse num só dia!
Deixem-me rir.
Como se alguém se casasse de uma vez por todas!
Eles acham que conseguiram, que podem viver, viver
dos seus "rendimentos" de pessoas casadas. Como se
alguém se casasse num só dia! Como se bastasse
darem-se uma só vez, de uma vez por todas; como se Eu
mesmo tivesse feito o mundo num só dia.
Como se não fosse preciso, a todo o custo, por bom
senso enfim, casarem-se todos os dias que Eu faço...
Charles Péguy
Testemunho
Há oito anos, encontrei a Linda. No
início não havia nada que nos aproximasse um do outro. Ela
tinha 21 anos, era alemã e tinha acabado o 12º ano. Estava alojada
numa família que fazia obras em casa e eu era o arquiteto encarregado.
Encontramo-nos pela primeira vez devido a um convite que me foi dirigido
da parte dessa família. Ainda nos encontramos outra vez numa das
reuniões por causa do projeto da casa, e depois a Linda voltou para
a Alemanha.
Eu era contra o casamento, quer fosse civil ou religioso, porque achava que,
para que uma relação fosse verdadeira, era preciso que a qualquer
momento ela pudesse deixar de existir. Ou seja, "é tão fácil
separarmo-nos que, se não o fazemos, é porque não o
queremos fazer".
Um ano e meio depois do nosso encontro (já tínhamos um bebê
de cinco meses) a Linda começou a pedir-me com insistência para
nos casarmos pela lei. Isto dava origem a fortes discussões. Quando
ela começou a tocar no assunto das alianças, enfureci-me.
A Linda queria a todo custo casar-se no civil, porque isso tinha valor de
compromisso, e o fato de morarmos juntos não era para ela moralmente
aceitável. Era igualmente um sinal exterior importante, que marcava
uma etapa da nossa vida e nos aproximava da etapa seguinte, que ela desejava
ainda mais: o casamento religioso.
Doze dias depois, o tempo que demora o anúncio oficial e público
do casamento, eu já estava orgulhoso por ter uma aliança!
Ainda houve momentos de atritos entre nós; até o momento em
que eu aceitei também ler o livro. Nele eu descobri uma religião
viva e o amor de Deus. Tive oportunidade de participar de um grupo de
oração. Esta experiência transformou a minha vida: Deus
estava vivo. Ele me amava. Ele estava presente na minha vida. E foi assim
que, em janeiro de 91, nós celebramos o sacramento do
matrimônio. Eis um exemplo: quando não estou de acordo com a Linda, acontece muitas vezes que o tom da nossa discussão sobe. Cada um de nós, seguro da sua posição e do seu direito, quer sobrepor-se ao outro. Surgem ofensas, palavras que ferem. Cada um espera que o outro caia em si, peça desculpa, se humilhe diante do outro, para que a vitória seja completa. Eu percebi agora que a verdadeira vitória é o perdão! Na oração eu encontro a força para pedir perdão à Linda. Isto não tem nada a ver com uma falsa derrota que deixa o orgulho intacto. Também não se trata de ser a pobre vítima que se sacrifica. Não; é pelo contrário, um sentimento de poder, um bem-estar profundo, é uma força que nasce em mim e que me ultrapassa. Nem é preciso dizer que se segue uma reconciliação profunda e que o amor retoma os seus direitos. Luc |